Foto: Gabriel Jabur/ Agência Brasília |
Quase 80% dos municípios do Nordeste com casos notificados de microcefalia associados ao zika vírus já estavam em situação de alerta ou risco pela infestação do mosquito Aedes aegypti em janeiro e fevereiro, dois meses antes do pico de incidência das doenças transmitidas pelo inseto. Com base em dados do Ministério da Saúde e das Secretarias de Saúde dos nove Estados nordestinos, que concentram 90% dos casos da má-formação, o jornal O Estado de S.Paulo analisou quantas dessas cidades já apresentavam, no início do ano, índices preocupantes de presença de larvas nos imóveis. A taxa é medida por meio do Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa), feito por agentes municipais e que tem como objetivo alertar as prefeituras para intensificar as ações de prevenção contra epidemia. De acordo com os critérios do ministério, se menos de 1% dos imóveis visitados no município tiver larvas, a situação é satisfatória. Se ultrapassar, a cidade é colocada em estado de alerta. Quando a taxa fica acima dos 4%, a situação é de risco para surto. O levantamento da reportagem mostra que, das 445 cidades nordestinas com casos de microcefalia, 316 fizeram o LIRAa no início do ano. Dessas, 248, ou 78,4%, estavam em situação de alerta ou de risco. Embora naquela época não houvesse relato da circulação do zika vírus em território brasileiro, o combate aos criadouros do mosquito serviria como prevenção. Para Edimilson Migowski, professor de infectologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as prefeituras deveriam ter se baseado nos resultados do LIRAa para planejar ações mais efetivas de combate ao mosquito. "É um instrumento prático e bastante sensível porque mostra a realidade dos imóveis. Se ele fosse melhor usado, minimizaria sofrimento e mortes", diz ele. Diretor de relações institucionais do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e titular da pasta do Recife, Jailson Correia afirma que a maior dificuldade das cidades é a limitação orçamentária para ações extras de prevenção. "Os municípios já usam, em média, 22% do orçamento em ações de saúde, muito além do previsto na Constituição, que é 15%. É lógico que, numa situação de risco aumentado, precisaríamos de fontes de financiamento para adotarmos medidas além da rotina." Os governos estaduais dizem que repassam insumos, recursos e orientações para as prefeituras, mas apontam a seca e o consequente armazenamento de água sem proteção como um dos grandes entraves. "Na Paraíba, 198 dos 223 municípios entraram em situação de emergência por causa da seca neste ano. O abastecimento é feito por carros-pipa e as pessoas têm de guardar a água em algum lugar. Geralmente, o recipiente fica desprotegido, se tornando um potencial criadouro", diz Geraldo Moreira de Menezes, gerente operacional da vigilância ambiental da Secretaria da Saúde da Paraíba.
Fonte: Bahia Notícias
Sem comentários:
Enviar um comentário