quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Tensão e acusações marcam 1º debate entre Dilma e Aécio

Ichiro Guerra e Divulgação
A petista fez diversas críticas à gestão do PSDB em Minas Gerais, enquanto o tucano tentou marcar o governo atual como um de retrocesso

O primeiro debate entre a presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, e o senador Aécio Neves, postulante do PSDB ao cargo, foi marcado por tensões e muitas trocas de acusações. Em encontro realizado nesta terça-feira 14 pela Band, a petista buscou explorar o fato de ter vencido Aécio em Minas Gerais no primeiro turno, e de o PT ter conseguido eleger Fernando Pimentel como governador. Aécio, por sua vez, procurou dissociar o governo Dilma do altamente popular governo de Luiz Inácio Lula da Silva e também retratar a atual gestão como uma de fracasso. Durante todo o encontro, os candidatos se acusaram mutuamente de mentir e de agir de forma leviana.

No primeiro bloco, Aécio Neves tentou distanciar Dilma de Lula. Em duas oportunidades, o tucano elogiou o governo do petista e afirmou que, com Dilma, o Brasil “parou de melhorar”. Para completar a crítica, Aécio disse ter a impressão de que ele e a petista eram “dois candidatos de oposição”, pois Dilma, afirmou o tucano, não defendia seu próprio governo. Dilma, por sua vez, centrou as críticas na gestão de Aécio Neves como governador de Minas Gerais, uma tentativa de ampliar a vantagem de 415 mil votos obtida no estado, segundo maior colégio eleitoral do país, no primeiro turno. A petista acusou o governo Aécio de desviar para outros fins mais de 7 bilhões de reais da saúde, o que ele negou repetida e veementemente, e afirmou que o estado tem o terceiro pior serviço do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) do Brasil.

No segundo bloco, Aécio focou suas críticas no que enxerga como descontrole da inflação e lembrou a frase de Márcio Holland, secretário de política econômica do Ministério da Fazenda, que recomendou à população trocar o consumo de carne por frango e ovo para evitar a inflação. Dilma, que na segunda-feira 13 classificou a frase de Holland como “extremamente infeliz”, afirmou que seu governo “manteve emprego, salário” e “continuou investindo”, ao contrário do que ocorreu no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), segundo ela. Aécio defendeu o legado do governo FHC e rechaçou a crítica de Dilma, segundo quem a inflação esteve fora de controle durante o mandato tucano. “A senhora quer enganar quem?”, questionou Aécio, ao lembrar que FHC assumiu o poder com uma inflação a 900% e entregou o índice em 12%. Aécio afirmou ainda que a inflação sob FHC chegou a 7%, mas voltou a subir após a eleição de Lula, em outubro de 2002. Para o tucano, o governo Dilma fez o Brasil regredir e está terminando “de forma melancólica”.

O debate mais tenso entre Dilma e Aécio se deu por conta de casos de corrupção. No segundo bloco, o tucano trouxe à tona o escândalo da Petrobras, que ressurgiu na semana passada com as informações dos depoimentos do doleiro Alberto Yousseff e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. O tucano confrontou Dilma, que diz ter demitido Costa, com uma ata da Petrobras no qual consta a renúncia do ex-diretor.

Dilma rebateu as críticas com sua defesa já tradicional sobre o tema. Ela afirmou que o PSDB, no governo, “finge investigar e não investiga” e afirmou que sob os governos petistas as instituições responsáveis pelo combate à corrupção foram fortalecidas e ganharam independência. Na sequência, Dilma citou diversos escândalos da era FHC, como os do Sivam, da compra de votos para reeleição, da “pasta rosa”, do “mensalão” do PSDB em Minas e do cartel de trens no metrô em São Paulo e afirmou que todos os envolvidos “estavam soltos”.

Aécio, em seguida, rebateu questionando Dilma sobre quais eram os “bons serviços” prestados por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, termo que consta na ata de sua saída da Petrobras. Dilma, então, partiu para o ataque. Ela lembrou a construção, pelo governo de Minas, de um aeroporto em Claudio (MG), na propriedade de um parente de Aécio, e acusou o senador de nepotismo, ao empregar familiares em cargos públicos. "Essa obra de Claudio, que a senhora insiste em citar de forma leviana, foi feita em área desapropriada em desfavor de um tio-avô meu, numa região próspera. Esse senhor de mais de 90 anos de idade reivindica mais de 9 milhões de reais por esse terreno. Se a senhora tivesse mais intimidade com Minas Gerais saberia que todas essas obras, inclusive asfálticas, foram consideradas corretas pelo Ministério Público", afirmou Aécio. Dilma rebateu: "O senhor está enganado. O MP não aceitou a denúncia criminal, mas recomendou a investigação por improbidade administrativa. Aécio rebateu acusando Dilma de fazer campanha com mentira atrás de mentira, e afirmou que o mandato da petista fez do governo “um mar de lama”.

No terceiro bloco, em que o debate foi centrado em questões de educação e segurança pública, Dilma voltou à carga sobre a gestão de Aécio em Minas Gerais. Ela lembrou que, segundo a Constituição, a segurança é tarefa dos estados, e afirmou que os números da violência aumentaram no estado. Ele rebateu. "Os crimes de homicídio no estado diminuíram 48%. Minas foi o estado que proporcionalmente mais investiu em segurança pública de toda a nação. O governo federal o que diz? Terceiriza responsabilidades", afirmou. No embate sobre educação, Aécio acusou Dilma de não cumprir a promessa de construir seis mil creches, e ela rebateu afirmando que seu governo “faz esforço enorme para colocar crianças de 0 a 3 na escola”.

No quarto bloco, Aécio questionou Dilma sobre a "baixíssima qualidade dos serviços públicos" e disse ter introduzido a "meritocracia" em sua gestão. Ele ainda tentou rebater a estratégia petista de focar em Minas Gerais e lembrou que Dilma não fez sua carreira política no estado. Dilma rebateu, afirmando que Aécio teve uma condenação no STF por ter contratado funcionários públicos sem concurso, e fez questão de centrar o debate no eleitorado mineiro. "Nós temos de deixar claro para o eleitor que estamos falando de Minas Gerais por conta da sua gestão. E também que eu saí de Minas, mas não saí a passeio. Saí porque fui perseguida pela ditadura, que posteriormente me deteve por três anos".

No último bloco, Aécio agradece os apoios de Beto Albuquerque (PSB), que foi candidato a vice de Marina Silva, e a Walter Feldman, um dos nomes fortes da Rede, o partido em construção de Marina, abrigado no PSB. O tucano enviou uma mensagem de agradecimento a Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, e a Marina Silva. "Tenha certeza de que eu saberei a cada dia dos próximos quatro anos honrar cada compromisso que juntos assumimos", afirmou Aécio à ex-senadora, que no domingo 12 anunciou seu apoio a ele. Dilma, por sua vez, disse ter "um compromisso verdadeiro com os trabalhadores, para garantir suas conquistas e seus ganhos" e prometeu dar início " um novo ciclo de crescimento para um País mais moderno, mais competitivo".

Fonte: Carta Capital

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